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Santuário vivo, gerador de comunidades

 

 

Remonta a 1957 a minha primeira participação na procissão de Santo Cristo, em Ponta Delgada. Era criança ainda e desse acto litúrgico só retenho a multidão que se aglomerava nas ruas, por onde passava o cortejo.

Desde então, quase nada mudou nos tradicionais ritos litúrgicos. E quando tal sucedeu (na visita de João Paulo II aos Açores) gerou-se alguma controvérsia sobre se, a destempo, a imagem deveria ou não sair da Capela do côro baixo para junto do Castelo de São Brás, onde decorreu a cerimónia.

Há um imobilismo que, a meu ver, se revela na falta de dinamismo pastoral que incumbe, por definição canónica, ao Santuário.

Já o afirmei, há alguns anos, e mantenho: cabe ao Santuário de Santo Cristo, a missão de colocar “à disposição dos fiéis meios de salvação mais abundantes, com o anúncio cuidadoso da palavra de Deus, o fomento da vida litúrgica, principalmente por meio da celebração da Eucaristia e da penitência, e ainda com o cultivo de formas aprovadas de piedade popular”. (Cân. 1234 do CDC)

O exemplo do Santuário de Fátima constitui um bom paradigma. Em torno da devoção mariana,  para além das constantes peregrinações paroquiais e diocesanas, nacionais e estrangeiras há, ao longo do ano, uma panóplia de actividades de formação e reflexão onde os responsáveis eclesiais estudam e aprofundam a mensagem evangélica, para melhor responderem às preocupações e anseios dos homens de hoje.

Fátima é muito mais que os dias 13: é um Santuário onde a piedade se alia à catequese e formação permanente dos agentes pastorais. Os Bispos do continente têm a noção da sua crescente importância e os sacerdotes integram na programação das actividades paroquiais deslocações e encontros em Fátima, conscientes dos benefícios dessas actividades. O Santuário de Fátima é o polo dinamizador e irradiador da pastoral litúrgica, catequética e caritativa em Portugal.

O mesmo não se pode dizer, infelizmente, do Santuário da Esperança.

Findas as festas, o Santuário transforma-se num espaço sagrado de recolhimento e de piedade, mais individual que comunitária e a visita diária à capela da Imagem, um local de visita, por vezes turística. Outras actividades não são do conhecimento dos fiéis, nem são divulgadas no site oficial do Santuário.

É certo que o tempo da cristandade e das grandes multidões passou. É verdade que os tradicionais valores cristãos da prática religiosa assídua e frequente foram abalados pelo fenómeno da descristianização e secularização. A religião católica defronta-se agora com outros credos alternativos que, insistentemente, aliciam as pessoas para novas formas de culto.

Há, no entanto, reminiscências da religiosidade de infância e exemplos familiares que nos apelam para, ao menos nesta quadra da Festa, realizarmos actos de piedade tradicionais que provocam em nós a catarse tão necessária para enfrentarmos os problemas da vida. O exemplo mais vincante é a participação nas Procissões da mudança e do domingo.

Alimentar e incentivar estas manifestações religiosas incutindo-lhes a força da mensagem bíblica e a prática da caridade, da solidariedade, da justiça e da paz, é missão que compete ao Santuário desenvolver, durante o ano inteiro. Junto dos idosos e dos doentes, das crianças, dos pais e dos jovens que, tão alegremente, participam no cortejo, das instituições públicas e privadas, enfim de todos os fiéis que aos milhares se incorporam no cortejo maior, pelas ruas da cidade.

O Santuário, o maior dos Açores, deve ser o polo irradiador de reflexão e de orientação pastoral da ilha inteira e de todo o arquipélago. Tem de  conquistar a praça para acolher peregrinos, ao longo do ano, que, em turismo religioso por ali passem. Se isso não acontecer, reduzir-se-á à semana da Festa e à piedade individual.

Um Santuário vivo e gerador, todo o ano, de comunidades actuantes, é o que desejo, muito sinceramente!

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